Arthur
Virgílio - O Estado de S.Paulo
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O lulopetismo intenta
"reescrever" a História recente do País. Começa com a apropriação do
Plano Real, sem lhe citar o nome, e da estabilidade econômica dele advinda.
Passa pela demonização das reformas estruturais do período Fernando Henrique
Cardoso, mesmo sabendo que foi à custa delas e da conjuntura internacional
benigna que Lula surfou nas ondas da popularidade. Desemboca na tentativa de
convencer a opinião pública de que não houve mensalão nem desvio ético algum do
"comissariado".
As trapaças de Erenice Guerra,
braço direito de Dilma Rousseff na Casa Civil, caem no esquecimento. A atual
presidente certamente sabe que, no seu gabinete anterior, foi elaborado torpe
dossiê contra Ruth Cardoso, e não inexplicável "banco de dados".
Cristovam Buarque, por suposta
incompetência, foi demitido por telefone da pasta da Educação. José Dirceu,
acusado pelo Ministério Público de ser o chefe da "quadrilha do
mensalão", jamais deixou de frequentar rodas palacianas ou de ser
atendido, pelos diversos escalões da administração, em seu mister de
"consultor".
Não tenho Cristovam como
incompetente. Mas se o julgamento do Planalto é esse, o que dizer de Fernando
Haddad, que desmoralizou o Enem? E dos executores do PAC, a começar por sua
"gerente", que gastaram absurdos em propaganda de obras incompletas
ou que nem saíram do papel? E do monte de ministros, cujo nome a população
ignora?
Beneficiam-se da Lei de
Responsabilidade Fiscal, contra a qual votaram e que questionaram no Supremo
Tribunal Federal (STF). Criticavam a dívida pública interna deixada por
Fernando Henrique, como se não houvesse preço a pagar pela estabilidade:
resgate de esqueletos, como o BNH da ditadura; renegociação das dívidas de
Estados e municípios; saneamento dos bancos estatais estaduais, que, na
prática, até moeda emitiam em favor do clientelismo e da corrupção; duas
capitalizações num Banco do Brasil quebrado e uma na Caixa Econômica Federal,
que foi profissionalizada e despolitizada.
Hoje a dívida pública é mais
que o dobro da que herdaram: R$ 1,7 trilhão, sem desencavar nenhum esqueleto.
Eleitoralismo, "esquerdismo" pelego, falta de espírito público.
Mistificam, confundem, mentem.
Comparam o medíocre crescimento que obtiveram nos anos da bonança internacional
com os números da luta contra a inflação e do enfrentamento de uma dezena de
crises externas sistêmicas que danificaram a economia brasileira, recém-saída
da hiperinflação. Esquecem-se de cotejar a evolução do PIB brasileiro, entre
2003 e 2010, com a de países vizinhos nossos, com os Brics, com o mundo
desenvolvido. Olvidam que o "brilhante" 2010 (crescimento de 7,5%)
nasceu da artificialização do crédito, do incremento assustador dos gastos
públicos, coroando a crise fiscal, que se foi tornando mais aguda a cada ano do
segundo mandato de Lula. Não tomam a América do Sul e a América Latina como parâmetros,
opondo a evolução de seus respectivos PIBs aos períodos 1995-2002 e 2003-2010:
aí o Brasil praticamente não alterou sua participação porcentual.
Lula melou as mãos de petróleo,
alardeando autossuficiência que jamais houve. Mágico de circo, "trouxe"
o pré-sal para o presente, dando a impressão de que os benefícios seriam para o
hoje, quando mil dúvidas, a começar pelo marco regulatório, rondam o êxito das
operações.
Apropriou-se da rede de
proteção social, que visava à emancipação dos beneficiários, criando o
Bolsa-Família. Jamais reconheceu méritos: procurava constranger Fernando
Henrique ("ex-presidente não deve falar"), ao mesmo tempo que se
beneficiava de palavras e votos congressuais de Collor e Sarney.
Gramsciano que não leu Gramsci,
planejou minimizar a democracia, pelo aparelhamento da máquina pública e pela
desmoralização das instituições. Um parasita de cargo comissionado de cota
partidária se satisfaz com seus "proventos" e fica à disposição da
"chefia" para gritar palavras de ordem nas ruas do Brasil. O cérebro
do lulopetismo pretende mais. Seu espelho é o que foi o PRI mexicano. Sonha com
amordaçar a imprensa e reinar sem oposição.
A desenvoltura palaciana de
Dirceu, a fraternidade com Delúbio e a imposição de João Paulo Cunha para
presidir a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados não são
obra do acaso. A ideia é apresentar fato consumado ao STF, intimidar a Corte,
desmontar o processo do mensalão.
Fascistas enquistados no
Ministério da Educação foram denunciados por imporem livros didáticos que
criticam Fernando Henrique e endeusam Lula. Lavagem cerebral. Tentativa
criminosa de "miliciar" a juventude, pondo-a a serviço de projeto de
poder que jamais quis ser projeto estratégico de Nação. Fizeram isso na Argentina
e deu em ópera cinematográfica; no getulismo do Estado Novo, em deposição do
ditador; na Itália e na Alemanha, guerra e fim funesto para os ditadores.
Desde o início foi assim. Os
discursos atrasados de Lula e do PT levaram os mercados à desconfiança em 2002
e os números da economia se deterioraram. Felizmente, souberam seguir as
políticas macroeconômicas com que se depararam. Foi quando nasceu a
"herança maldita", mil vezes repetida até a culpa sair dos vencedores
e cair nas costas de quem deixava o poder.
Agora, às voltas com renitente
inflação gerada pela farra fiscal que fez Lula popular e elegeu Dilma, vivem
momento difícil e não têm bode expiatório para execrar. Tergiversam.
Candidatam-se a delirante Nobel de Economia falando em conter a inflação sem reduzir
o ritmo de crescimento. A que ponto não chegarão quando a dura realidade lhes
bater à porta?!
Temo turbulências. Que a
democracia saia vencedora de qualquer desafio que se anteponha à sua
consolidação plena.
DIPLOMATA,
FOI MINISTRO-CHEFE DA SECRETARIA-GERAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, LÍDER DO
GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO E DO PSDB NO SENADO
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