Editorial do
jornal O Estado de São Paulo em 20
de novembro de 2010 http://www.estadao.com.br/noticias/geral,um-crime-dentro-de-outro,642931,0.htm
O
desfecho do julgamento do primeiro dos sete acusados do sequestro e assassínio
do então prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, em janeiro de 2002, fez
justiça à convicção do Ministério Público de que ele não foi vítima de um crime
comum, como sustenta a Polícia paulista, mas de um crime político -
encomendado, no dizer do promotor Francisco Cembranelli, "por uma corja de
malfeitores, verdadeira máfia, alojada na administração petista".
O
conselho de sentença que considerou culpado o réu Marcos Roberto Bispo dos
Santos, condenado a 18 anos de prisão em regime fechado, acolheu por
unanimidade todos os seis quesitos formulados por Cembranelli. Um deles pedia
que o júri, composto por cinco mulheres e dois homens reunidos no Fórum de
Itapecerica da Serra, na quinta-feira, se manifestasse sobre a tese de que o
crime foi cometido mediante paga e promessa de recompensa.
É de
fato inverossímil que a captura de Celso Daniel tenha sido iniciativa de uma
quadrilha especializada em sequestrar pessoas de posses para obtenção de
resgate. Na versão da Polícia, os sequestradores teriam confundido o prefeito
com um empresário que atuava na Ceagesp. Decidiram executá-lo ao descobrir,
pelo noticiário da TV, a identidade de sua presa. À época, Daniel coordenava o
programa de governo do pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva e era tido já
então como nome certo para o seu eventual Ministério.
Ao
percorrer diligentemente os meandros da tragédia, o Ministério Público
encontrou um crime dentro de outro. Tratava-se do esquema de cobrança de
propina de empresas que prestavam ou desejassem prestar serviços ao município.
A operação - de que o prefeito estava perfeitamente a par - era capitaneada
pelo seu ex-segurança e amigo próximo Sérgio Gomes da Silva, o Sombra. Daniel
se insurgiu contra o esquema apenas quando soube que parte do butim era
embolsada por Sérgio Gomes e associados. Todo o produto das extorsões deveria
ser repassado ao PT para forrar o caixa 2 do partido.
O
peculiar senso ético de Daniel - que decerto ele compartilhava com muitos
companheiros, dado o que se passava e viria a se passar em outras prefeituras
controladas pela legenda - custou-lhe a vida. Os procuradores apuraram que,
diante da decisão do prefeito de pôr fim ao pedágio espúrio no município, Gomes
resolveu eliminá-lo. A Polícia, embora dissociasse uma coisa da outra, não
contestou as evidências de corrupção recolhidas pelo Ministério Público. Nem
poderia.
Conforme
o testemunho dos irmãos de Daniel, o Sombra entregava o dinheiro ao secretário
de governo de Santo André, que se incumbia de levá-lo ao presidente do partido.
O secretário era Gilberto Carvalho, que viria a ser chefe de gabinete do
presidente Lula e seu mais íntimo colaborador. Ele figura como réu em um
processo por improbidade administrativa no município. O presidente do PT era o
deputado José Dirceu, que viria a ser o "capitão do time" de Lula.
Além de ter cassado o seu mandato parlamentar, está sendo processado como
principal articulador do mensalão.
No
julgamento dessa semana, o promotor destacou que as somas extorquidas em Santo
André se destinavam a abastecer campanhas petistas, "inclusive na primeira
eleição do presidente Lula". Segundo ele, "o PT depositava todas as
fichas naquela campanha. Os recursos passaram a ser captados de maneira mais
portentosa". Ele abordou ainda um aspecto do caso que até aqui não parecia
claro: por que, antes de matá-lo, os sequestradores torturaram o prefeito nos
dois cativeiros para onde foi levado? A sua execução não seria suficiente para
o que o Sombra teria pretendido?
Daniel
foi seviciado, apontou Cembranelli, para que revelasse onde estava um dossiê,
presumivelmente compilado por ele, "com informações contra integrantes do
PT". Não se sabe o que foi feito da papelada. Mas o promotor lembrou que
Gilberto Carvalho foi visto em companhia de outro petista, o vereador Klinger
Sousa, saindo do apartamento do prefeito no dia seguinte ao sequestro.
"Celso Daniel foi varrido por uma trama macabra", afirmou
Cembranelli. "Virou obstáculo, um estorvo." Talvez não apenas para os
Sombras.
***
Leiam o comentário "O MAIOR ESCÂNDALO DA HISTÓRIA" de M. Cristina da Rocha Azevedo - Florianópolis, em
***
E um ...
Grande Golpe do PT causa dano à Filha
do Brasil
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