Hino Nacional Brasileiro
Leandro Colon / BRASÍLIA
- O Estado de S.Paulo
A Empresa Brasil de Comunicação
(EBC), do governo federal, contratou por R$ 6,2 milhões uma empresa que emprega
o filho do ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, presidente do
Conselho de Administração da estatal, conhecida como "TV Lula".
Ernesto Rodrigues/AE
Suspeita. Sede da Tecnet, onde
trabalha o filho do ministro, na Grande SP: edital teve trechos tirados do site
de uma das concorrentes, que acabou derrotada
A Tecnet Comércio e Serviços Ltda.
venceu, no penúltimo dia de 2009,
a concorrência para cuidar do sistema de arquivos
digitais da EBC, um dos grandes projetos do governo.
E-mails da própria EBC obtidos
pelo Estado mostram que o ministro Franklin Martins pediu "prioridade
zero" para o assunto, embora pareceres feitos em dezembro alertassem
quanto à falta de recursos orçamentários para o projeto. A EBC é a única
emissora de televisão brasileira cliente da Tecnet na área digital. A empresa é
o braço operacional do grupo que dirige a RedeTV!
O jornalista Cláudio Martins,
filho do ministro Franklin, trabalha na Tecnet há pelo menos dois anos como
representante comercial, segundo a própria direção da empresa. De acordo com o
comando da Tecnet, ele é o responsável pelos negócios de software e tecnologia
da empresa no exterior e com as afiliadas do grupo. Cláudio acaba de chegar do
Chile e da Argentina, onde foi apresentar serviços da Tecnet.
A licitação vencida na EBC foi
realizada às pressas em 30 de dezembro passado. No dia seguinte, o governo
emitiu a nota de empenho (compromisso de pagamento) para a empresa. Segundo a
direção da EBC, o trabalho da Tecnet está em fase de execução em São Paulo e, em breve,
deve atingir Rio de Janeiro e Brasília. O sistema da Tecnet cuidará da gestão
dos arquivos digitais novos e futuros da empresa do governo. Além desse
contrato, a Tecnet tem outros dois com a Caixa Econômica Federal, no valor de
R$ 5,4 milhões, para prestar serviços de telemarketing.
A EBC foi criada em outubro de
2007 como um grande projeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para criar
uma TV Pública. O ministro Franklin Martins é quem comanda o setor. A relação
entre EBC e a Tecnet desperta a atenção não só pelo fato de o filho do ministro
trabalhar na empresa contratada pela pasta comandada pelo pai. O processo de
concorrência é nebuloso.
Sem recursos. Um empresário do
mercado admitiu anteontem, em conversa gravada com o Estado, que deu orientação
à comissão de licitação sobre como elaborar o edital de contratação. E, apesar
disso, sua empresa participou da concorrência, tendo sido a única adversária da
Tecnet na disputa. Os papéis mostram, ainda, que não havia recursos
disponíveis. "Não há disponibilidade orçamentária para atender à despesa
em questão", diz relatório, de 11 de dezembro, da coordenadora de
licitações Maria Cristina Brandão Santos. Ainda assim, a EBC fez um pregão
presencial às pressas, 19 dias depois.
Essa correria talvez se explique
pela decisão de Franklin de dar "prioridade zero" a esse contrato e a
um outro da área, segundo e-mails trocados entre funcionários da licitação da
EBC. Num e-mail enviado a cinco funcionários em novembro, o gerente da comissão
de licitação, Francisco Lima Filho, pede agilidade no caso. "Tendo em
vista o compromisso firmado entre Collar e o ministro Franklin Martins sobre o
assunto, Wellington conduz as pesquisas e Cristina toca os editais",
disse. Collar é Ricardo Almeida Collar, ordenador de despesas da EBC. Foi ele
quem assinou, a 11 de dezembro, a autorização para o pregão presencial. Assim,
as concorrências foram feitas no apagar das luzes de 2009, a tempo de garantir a
liberação dos recursos em 2010.
O empresário Fábio Tsuzuki, que
dirige a Media Portal, contou ao Estado que contribuiu para a elaboração do
edital, o que quebra o caráter de impessoalidade da licitação. Ele menciona,
como interlocutor, o gerente-executivo de Tecnologia da estatal, Gerson Barrey.
A EBC pôs no papel uma estimativa de R$ 16 milhões num processo que contou com
a participação de duas empresas. A Tecnet jogou os preços para baixo e fechou
um contrato de R$ 6,2 milhões.
EBC nega. Em nota, a EBC negou
irregularidades e disse que "adaptou" o projeto entregue pela empresa
onde trabalha o filho de Franklin. "O sistema MAM-TECNET foi adaptado às
necessidades da EBC, já foi apresentado aos responsáveis técnicos e já foi por
eles aprovado", disse a direção da estatal.
O empresário da Media Portal
disse que orientou servidores da EBC a buscarem no site da empresa requisitos
técnicos da disputa. Alertou que não fossem citados nomes específicos de
"produtos", mas apenas de funções, da concorrência pública. "Se
você coloca nome de produto, fica muito direcionado", disse. "De
certa forma a gente ajudou validando a descrição das funções (do sistema). A
gente disse que eles poderiam usar nossa descrição. Se você olhar, vai ver que
é igual ao edital", disse. "A gente foi prejudicado porque achou que
iria ganhar e não ganhou. De certa forma poderia dizer que estava direcionado
(para a Media Portal), mas não fomos beneficiados." Tsuzuki disse não ter
condições de afirmar que a Tecnet foi favorecida pelo governo. COLABOROU FAUSTO MACEDO
Veja a foto da Sede da Tecnet,
onde trabalha o filho do ministro, na Grande SP em http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100922/not_imp613385,0.php
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